quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Don't be afraid of the Dark



Eu sabia, a cada passo torto daquela tortuosa noite eu me encontrava e é como se eu já soubesse de onde vinha, um som nada agradável invadia meus ouvidos e insaciavelmente eu clamava de sede, mas uma sede diferente, uma sede quente! Parei ainda duas ou três vezes sentindo cheiro de sangue, mas quando eu me olhava não via sangue algum, parecia que em minhas veias não corriam mais hemácias, sem elas, sem oxigênio, e eu nem mesmo respirava, eu estava gélida e pálida, seca! Minha visão aos poucos se enquadrava e por fim eu enxergava a entrada principal do parque onde a pouco eu saíra, eu dei voltas e mais voltas sem se quer mover-me do mesmo lugar, logo notei ouvir um coração bater, mas não era o meu, mesmo porque ele não batia mais, quando olhei para trás senti um cheiro suave e uma voz acalentadora, era outra mulher, o mesmo sexo que o meu e mesmo assim eu a desejava, cada vez que ela respirava eu estonteava, eu a ouvia, mas não distinguia nenhuma palavra dita por tal, talvez me perguntasse se eu estava bem, não sei ao certo, só sei que com uma voracidade que tirei sabe-se lá de onde, eu pulei no pescoço dela e abocanhei, mordi e suguei tudo o que pude de sangue, em seguida retornei a mim, me vi repleta de morte e agora homicida, mas estava tão aliviada que não me restava tempo para arrependimentos. Me ergui, não sorri, caminhei, me perdi e sumi... Por mim, apenas pelo meu ser resolvi esquecer o nome daquele que verdadeiramente me transformara no monstro que ainda sou, por que esquecer? Dizem que quando você lembra o sofrimento dura uma eternidade, e no meu caso isso passa a ser real.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quer outro conselho?



Você chama isso de paixão? Fala sério! O que você tem feito nos últimos 365 dias por ela? Dar flores? Ela nem gosta, você nem sabe do que ela gosta! Dizer palavras bonitas todos os dias? Ela só corresponde pra você não ficar sem graça, ela é fechada sim, não significa que não goste de você, pare de cobrar isso dela, comece a esquecer das palavras, das carícias e dos presentes, veja aquilo que é implícito. Ela chega cansada em casa todos os dias e ainda assim a primeira coisa que ela faz é sentar no seu colo, te fazer uma massagem nos ombros ou te encher de beijos. Ela nem gosta de demonstrações afetivas em público e todas as vezes que vocês se encontram em lugares assim ela te agarra, pra valer mesmo, sabe por quê? Porque você gosta, suficiente? Acha pouco? Ela tentou, cara, é sério, foi além dos limites dela, fez de tudo para que você nunca se cansasse dela, funcionou não é mesmo? Não! O feitiço virou contra o feiticeiro, quem se cansou foi ela, cansou de amar sozinha, porque falar é muito fácil, demonstrar, bom, aí já é outra história totalmente diferente.
Durante todo esse tempo não teve um dia se quer que você tenha deixado de dizer um “eu te amo” a ela, você sempre era o primeiro a dizer, não importava como ela estava, onde estava, com quem estava, perto ou longe, pessoalmente e acompanhado de um beijo caloroso ou então por uma mensagem no celular, na maioria das vezes ela respondia só um “eu também”, assim seco, sem beijo, sem risos, mas esse conceito de que palavras valem mais, é mentira! Ninguém prova nada com palavras, você consegue mentir, dissimular, mesmo o que é sincero se distorce, ela precisava de mais, ela precisava de mais abraços, de mais correr atrás quando saia correndo e chorando, ela sempre voltava, você sabe, mas cada vez com um pedaço a menos do coração, porque não era você indo atrás na chuva, no sol, onde fosse, ela voltava e você dizia: Eu te amo! Você só sabe falar, é fácil amar alguém quando a pessoa faz tudo sozinha, mas eu vou te contar um segredo: Não existe relacionamento de um só, querido.
Agora você vai ficar aí sentado chorando porque a perdeu? Sério mesmo? Meu bem, não adianta, levanta esse rosto, seca essas lágrimas e saí, vai viver, pega o que você aprendeu com ela, o que aprendeu sem ela e coloca em prática num novo amor, num novo projeto, em qualquer coisa, apenas inove! Ela não vai se arrepender, nunca, ela fez tudo! Ela vai ser feliz com outro, sem outro, com outro de novo e mais outro e quantos forem, ela vai ser feliz até se tiver que viver só de paixão, até com o que for casual, porque ela é assim, ela faz por merecer. Quanto a você, perdão, vai ter que conviver com essa amargura, esse erro, por toda sua vida, mas nunca é tarde pra tentar reconstruir, não é mesmo? Então eu te desejo boa sorte, e ela também, e ela deseja acima de tudo que você vá ser feliz, muito feliz e a esqueça eternamente.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Quer um conselho?



Para duas pessoas ficarem juntas é necessário muito mais que aceitação, é necessário terem no mínimo quase todas as coisas em comum, quase... Se ele for o estilo foda-se para a sociedade e ela for moralista e tentar defender as causas perdidas, alguns conflitos podem surgir, se ele for racional demais e ela muito lunática ele pode acabar destruindo os sonhos dela de alguma forma, e como se vive com alguém sem sonhos? Se ele for o tipo que prefere deixar rolar, sem nunca ir atrás de nada, e ela for centrada e correr atrás dos seus objetivos com todas as garras, ele vai acabar se sentindo de lado, achando que as prioridades são outras, se ela for sistemática e ele não se importar com o que os outros pensam, toda vez que ela chorar por besteira ele não vai querer consola-la.
Quando se quer estar junto não adianta gostar das mesmas bandas, dos mesmos filmes, das mesmas comidas, porque relacionamento não é só ouvir música, ir ao cinema e jantar juntos, vai muito além de tudo isso, é sintonia, harmonia, entende? Claro que algumas poucas diferenças são totalmente aceitáveis, se ele for muito reservado e ela muito extrovertida, ela só vai conseguir mostrar a ele um mundo diferente, se ela for muito brava e ele muito tranquilo, ele vai conseguir acalmar ela todas as vezes que precisar, questão de saber medir as coisas, deixa-las na altura certa, mediar, equilibrar.
Respeito, talvez esse seja o conceito principal, bem além de aceitar, porque aceitar é fácil com a convivência, mas e se deixar de conviver? Ele tem que acabar? Se você amava alguém ontem e não pode mais amar hoje, precisa deixar de respeitar? Porque se for assim, não terá valido de nada o tempo em que passaram juntos, por mais longo que seja! Se você tentar fazer alguém ficar com raiva, você vai conseguir em algum momento, sem muito esforço, o pouco isso conquista. Mas se quer estar para sempre na memória de alguém como uma boa lembrança, uma recordação, então respeite, e só.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ensejo



E quando você saiu eu fiquei parado naquela porta, eu clamei “Volta”, mas você não voltou, você chegou, devastou, roubou, humilhou, dominou e abandonou, me deixou. Depois de ter esperado duas ou três horas estático, calado, eu me entreguei ao piano, as suas notas mal tocadas pelos dedos trêmulos misturados a lágrimas. Eu me perdi. Fugi, menti, dormi, e tentei apagar da minha mente cada vestígio seu, tentei te odiar em todas as esquinas pelas quais passei, tentei não retornar aquele vago momento em que você me expulsou da sua vida com palavras tão doces e ainda assim amargas.
Eu tentei não estar no seu abraço, desfazer aquele laço que me mantinha preso ao seu corpo, sua alma, sua vida, sua ira... Eu só queria não ser mais eu, não estar em mim, não lembrar, mas como? Eu não consigo me recordar de felicidade alguma antes de você, e depois como vai ser? Foi sua presença que me fez dar cor ao mundo, som as palavras, alma a vida! Não apenas existir, mas viver, aprender, conhecer, e agora eu preciso esquecer! Eu necessito, tenho a ânsia esdruxula de quem não pode ter, me sentindo platônico e abcesso de todo o ser.
Minha vontade era ter garras, e com elas retirar todo seu acúmulo de dentro do meu peito, cravar um punhal diante ao seu leito e me derramar como se não fosse mais existir, como se o vento tivesse lhe tirado de mim, como se aquelas palavras proferidas tão diretamente não passassem de um sonho ruim, ao qual eu despertei e pensei que nunca havia encontrado uma fada, a quem amar. Quando você partiu, me feriu, deglutiu meus risos, meus brilhos, me levou para um vasto infinito. E eu se quer consigo me livrar, não posso retirar tudo, não posso apenas colocar em minha mente como uma lavagem, que você nunca esteve ali presente, apenas ausente.
Eu finalizo, já toquei todas as minhas músicas, já clamei todos meus dessabores, meus horrores, minha dores... Onde está? Por onde andas? Com quem? Por quê? Eu não devo prosseguir, você tem que me ouvir! Por favor, se não for voltar, ao menos também não me deixe, retorne nem que seja para eu me despedir, não sentir remorso por tê-la permitido partir sem ter se quer tentado impedir. Passam os dias, as horas, os segundos, só você não passa. “Vai passar, vai passar”.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Eu falhei!

Falhei ao confiar em quem não devia, falhei ao deixar passar uma grande oportunidade, falhei ao não ter coragem, falhei ao passar vontade, falhei ao calar diversas vezes, falhei ao falar outras mil vezes, falhei ao acreditar, falhei ao duvidar, falhei com as pessoas e comigo mesma, falhei sem notar, falhei por querer falhar, falhei por medo, falhei pouco comparado ao tanto que ainda vou falhar, falhei ontem e antes de ontem e falharei amanhã, falhei ao sonhar e quase nunca realizar, falhei ao amar, falhei ao odiar, falhei... Mas a minha maior falha foi demorar tanto para aceitar que é humano assim falhar.



Todos estão preocupados em impor e não propor.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Preâmbulo

Meu coração só tem formato
Chega a ser quase abstrato
Isso é fato!

Nem lá, nem cá
Nem sol, nem lua
Nem céu, nem mar

Definir? Impossível
Ganhar? Tentar
Perder? Vacilar

A garota dos sonhos perdidos
A garota da alma partida
A garota que procura encontrar

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

It's your goodbye

“Se eu morrer antes de terminar, você vai decidir”

O que é verdade entre nós? Além dos intermináveis tropeços, aonde então essa minha vida irá nos levar? Ela é tão insana, sempre plana, que eu não sei por onde devo caminhar, ou encontrar. Talvez você não devesse ir tão longe, tão distante, porque lá eu não posso te alcançar, não saia do meu ponto de vista! Isso é uma ordem! Eu imploro, eu intercedo por mim, por nós, por vós... Eu apenas quero alcançar a imortalidade em seus breves e mais vagos pensamentos, e pastar na tranquilidade do seu nobre olhar, sem te prender tão fixo, tão perto, apenas não desejo perder, porque eu não vivo de demagogias, eu admito que vencer é sempre o que mais importa no final.
Final? Isso existe? Onde? Quando? Quando foi que tudo começou a se acabar? Ruir nos mares de um eterno precipício, afobado, estofado, talvez pouco amargo, mas algo real, que se toca, se sente, se investe, por mais difícil ou diferente que seja. Talvez seja melhor não ultrapassar essa barreira, não descer as escadas do além, apenas permitir que a alma encontre sua própria saída. E se não houver saída? E se essa realidade paralela for um labirinto? Tortuoso, insano, sangrento, assim como um metrô que corre a cidade, cheio de pessoas perversas, homicidas, suicidas.... Que saída!
Mas nós vamos levando, vamos lutando, aceitando o que temos de melhor pra ser em todos aqueles intermináveis dias de angustia e ânsia, correrias, loterias, padarias, não sei, de repente todo o cotidiano de cada um, o nosso, parece não se completar e chega a nem doer mais tanto, como se não mais importasse como antes, como se fosse opcional querer estar em uma pior e despertando eu resolvi me levantar. Se for pra você ficar, que não seja incompleto, talvez incorreto, mas que permaneça para todo um sempre que criei, de mãos atadas na eterna estrada de um amanhecer.

“Leve minhas palavras e as transforme em sinas que sobreviverão”

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Carta de Despedida


Eu parei realmente para olhar as coisas ao meu redor, todas elas, e nenhuma foi suficientemente convincente para me fazer ficar. De repente eu não quero mais permanecer onde quer que seja sem a sua presença, mas também não a quero de volta, depois de alguns atos e algumas palavras trocadas, jamais seriamos os mesmos e algumas coisas servem apenas para conhecermos as pessoas, e ver que no fundo ninguém nunca irá nos completar totalmente, que somos seres de um só, nascemos pela solidão, e isso nos custa a ser aceito, porque estamos sempre procurando alguém ou alguma coisa para suprimir a nossa ânsia de viver, e quando as pessoas acordam (assim como eu acabo de cometer), perdem essa vontade, não querem mais abrir os olhos, desejam friamente fechá-los e não mais recordar nada, viajar quem sabe no profundo abismo de uma mente insana e por ali perder seus passos.

Mas eu desejo que, por favor, nunca, nunca cometa essa mesma loucura que eu cometi, nunca desperte para essa calculista realidade, pois ela dói, ela arde, nos toma por completo, tira todas as boas recordações que temos, faz nosso peito e nossa mente se esvaziar com uma rapidez áspera, causando náuseas estonteantes, trazendo os vermes de toda a terra ao nosso encontro, domando a mente e obrigando a angustia a permanecer em nossa fria pele, torturando os ossos, os quebrando. Um sufoco que parece nunca nos deixar, um medo de estar, de amar, de lutar, de esperar, um medo de qualquer coisa, um medo doentio e inconsequente, mas um medo que traz aquela coragem que precisamos para tomar a decisão correta, encarar a atitude certa.

Eu não quero mais pensar em nada, nem em nós, nem em mim, muito menos em você, apenas não desejo mais pensar, não aguento mais a minha cabeça pesando sobre todo o corpo, me fazendo cair em um profundo abismo no fim do mundo, eu preciso de resgate e só existe uma saída, eu tenho tentado todos os dias, momento a momento, eu tenho tentado respirar, te esquecer, te deixar, mas você é tóxico, me corrói por dentro, me limita a alma, isso não é amor, e se for, por favor, nunca mais! É algo que não almejo mais sentir, nunca pensei que fosse ser difícil me livrar da sua falta, mas não é sua realmente, é falta de alguns momentos, do que tivemos, do que não volta, é culpa, por ter acabado com tudo, é vontade de prosseguir, mas sem conseguir deixar você passar.

Eu sinto que você nem se quer pensa mais em mim, e quando parei pra reparar, eu fui seu atraso de vida, eu só fiz você se acostumar com tudo aquilo que não devia, eu fui apenas a ilusão passageira que veio para devastar seu coração, você pode estar melhor com ela e eu notei que te completa mais, combina mais, te domina mais, e é bem mais, assim como qualquer outra pessoa, muito mais que eu! Eu sou um nada, uma ventania sem rumo, eu não sei mais o que é sorrir sozinha, porque tirei de mim a única coisa que me fazia enxergar felicidade onde não tem. É, eu despertei, mas como é ruim, como dói, como acaba, como detona, eu não quero mais! Não consigo! Não existe mais nós dois, não vai mais existir, talvez não devesse ter existido... Não por mim, mas por você, o que eu te fiz? Não tem perdão, eu criei uma sombra entre nós, uma distância! Eu joguei tudo fora, toda aquela amizade, ela nunca mais irá voltar, e por quê? Porque me rendi ao tolo capricho de amar.

E no que eu me transformei? Em um monstro enfim, eu não consigo se quer chorar, nem mesmo as tristes notas de uma triste melodia me conseguem estremecer, ruir os olhos, tocar a alma, eu sou apenas tudo aquilo em que nunca quis me transformar, algo ao qual não consigo me adaptar, por mais que eu tente, cada dia que passa se torna mais doloroso, eu não quero mais existir nesse mundo, nem em outro, qualquer outro, eu não quero estar em lugar algum que se necessite os sentimentos para viver, eu não preciso, eu não posso, eu não quero! Eu gostaria de gritar, correr nessa chuva exausta que cai lá fora, ter uma gota se quer de vontade, por menor que seja, eu gostaria, mas é como se não mais vivesse apenas existisse, por isso eu deixo claro que essas minhas palavras não são a intenção de magoar alguém, são apenas os meus motivos, pelos quais assim me despeço, de você, de nós, do mundo, de tudo, eu vou me retirar, vou me libertar, e por favor, não chore, me esqueça, não se entristeça, existe muito o que sonhar nessa vida de amarguras e você ainda pode se salvar de ser o seu pior, se tornar o que eu sou, o que eu fui... Deseje nunca despertar.

sábado, 12 de novembro de 2011

A porta

Ela está sempre ali parada, intacta, se perdendo em sua luxúria estupenda, sem começo e nem fim. E quando tentam tocá-la, ela recua, ela não permite que ninguém vá tão fundo até a alma que a pertence tão bem. Ela prefere manter-se estacionada nos vãos das vidas de outrem, sem que haja a responsabilidade de ter que agradar alguém. Assim ela se encontra, se depara, se debate e se mantém! Muita vida, muita honra, muita coisa é sua refém, mas mesmo nas esquinas em que não se arrisca a dobrar, um sino uma hora irá tocar, e chamar sua atenção que até então não conseguiram encontrar. Pode demorar, pode estar longe, pode estar perto, pode ser certo, pode não ser, mas ainda assim, em algum momento ela irá despertar, e despertando irá lutar, e lutando irá ganhar, e ganhando... Ela está sempre ali parada, intacta, mas se por uma questão de horas alguém conseguir vê-la sorrir, fazê-la rir, então este ser merecerá, mesmo que pouco, mesmo que vago, merecerá enfim roubar todos os seus sonhos, compartilhar os segredos, e por ela atravessar. Mas se por um acaso, qualquer caso, alguém puder a magoar... Toc toc! Ela não irá abrir. Toc toc! Ninguém mais seu coração irá partir. Toc toc! Nas suas ânsias conseguirá resistir. Toc toc! Ela não quer mais brincar. Ela não quer mais amar. Ela não quer ter que dividir sua história com ninguém, descobriu na independência do seu ser que consegue ir mais além se não tiver que se render aos caprichos de ninguém. Toc... toc!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Diário

Eu fico flutuando, viajando entre as ondas e os montes, eu subo muito alto até quase não ter mais ar e de repente eu desço, uma queda brusca, ardorosa, que incomoda, parece um punhal rasgando o peito. Quando estou lá em cima eu sou dona do mundo, dona de ninguém, eu pertenço a ninguém, eu sou minha e é o que importa, capaz de passar por qualquer que seja o obstáculo, de qualquer que seja a forma, mesmo as mais insanas, e eu estou sempre rindo, gritando, dançando, esbanjando toda a felicidade que em minha alma cabe. Mas quando eu caio, quando eu desço, que desespero, parece que nada está no lugar onde devia estar, parece que por mais que faça esforço não vou me levantar, falta um pedaço enorme do meu ser, falta a vontade pra querer viver, uma falha necessária pra eu crescer. E se eu ruir? E se não aguentar? Se meu coração se despedaçar com tantas mudanças de clima dentro dele? Pois quando aqueço eu sou toda inverno, e se estremeço eu sou puro inferno, mesmo quando esqueço tudo o que eu procuro, tudo o que mais quero é não mais sentir, é tirar de dentro, tirar com a mão qualquer que seja a sintonia, deixar de me dobrar aos seus pés e de relutar, eu já não mais quero subir e nem descer, quero estar neutra, tão na mesma que nada irá mudar meus conceitos, não quero mais enxergar também, nem quero estar além, eu preciso de calmaria vinda do mar, e não enchente, eu estou tão ausente que já não encontro por onde caminhar e nem se quer eu sei se desejo continuar, é como se eu quisesse não existir, ou como mágica sumir e deixar de estar na mente de qualquer um que seja.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Romantismo Exagerado

Eu quero quase morrer de amores e em algumas dores me encontrar.
Quero nos seus braços estar e nos seus abraços me alimentar.
Eu quero na sombra te amar e um milhão de flores vou te entregar.
Eu vou encostar no travesseiro e com seu anseio eu vou sonhar.
Vou te levar em um passeio e em nosso devaneio eu vou chorar,
lágrimas de alegria, e eu espero que você sorria quando me olhar.
Será para sempre meu querido, mesmo se tiver meu coração partido,
e se estiver ferido ainda assim será.
Mesmo se eu for lutar, felicidade você me trará.
E tudo o que me causar, tudo o que me falar,
com a minha alma eu ei de guardar.
És meu passado, futuro e presente, até quando ausente.
E no meu tormento peço que não lamente,
pois se estiver contente eu vou melhorar.
Quero ser sua fada, ser a sua espada, encarar batalhas e contigo amar.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Platônico

Ele passava horas a observá-la, passaria dias seguidos se não tivesse necessidades e deveres a cumprir, e ela sempre a dançar ao som da mesma música que já desgastada soava fraca, mas ela se mantinha firme na ponta dos pés da desbotada sapatilha, girando e girando em seu mundo sem parar, sobre um chão espelhado em que se via refletir, com seus cabelos loiros presos sempre naquele mesmo penteado antiquado, a maquiagem bem feita na pele alva e não tão suave, com o vestido cor de rosa apertado que delineava suas curvas perfeitas que nem o passar dos anos dera conta de tirar. A música acabava e retornava e ele ali se encontrava, deitado sobre sua cama a vendo fazer os mesmos passos breves, sem muitos movimentos, apenas a girar e girar e girar... Sem nunca cansar, não estonteava, não reclamava, também não cantava, e o som ia sumindo, ficando cada vez mais fraco, os anos passando e ela ia se dissipando, já não era mais a mesma, estava velha, gasta, diferente, mas nunca deixou de dançar nem só por um minuto se quer. Um dia ele fechou seus verdes olhos naquela visão teatral e rotineira que o acompanhara pelos seus doze primeiros anos de vida, quando no dia seguinte os abriu ela estava parada, sem cor, sem vida, mas se mantinha em pé, naquela posição de corpo inclinado, mãos que se mantinham a segurar o vestido em sinal de reverencia, tudo como sempre fora agora tão sem graça, e o som não mais tocava, nem mesmo um tilintar de sobras, nada... O garoto se ergueu da cama ainda exausto, aproximou-se da caixa em que ela se encontrava, tentou ainda algumas poucas vezes ressuscitar e resgatar todas as boas lembranças e todos seus momentos, mas por fim encontrou a desistência, fechou a caixa permitindo a bailarina se deitar pela primeira vez desde que a ganhara. Uma paixão súbita por algo que não tinha ar, não tinha alma, não tinha tempo, não tinha medo, não tinha tristeza alguma, assim como nunca sorria, ali se terminara um grande amor de apenas um.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um pouco de quase tudo

O amor, o ódio, os risos, os momentos, as lembranças, as intimidades, os segredos, o ciúmes, o medo, a perda, as histórias, as brincadeiras, as idéias, as loucuras, os dias, as madrugadas, as tardes, a chuva, o relógio, as fotos, o carro, o jantar, os presentes, as roupas, os banhos, as brigas, as bebidas, a saudade, a distância, o necessário, os beijos, o calor, os abraços, as lágrimas, as palavras, os pedidos, as promessas, as dívidas, as dúvidas, as surpresas, os pensamentos, os desejos, o oculto, o desespero, a abstinência, a greve, a confusão, a alma, as verdades, as mentiras, as pausas, o tempo, o desperdício, a liberdade, os defeitos, as qualidades, a atração, a pressa, o impossível, o receio, os sonhos, a consciência, os costumes, os erros, a ansiedade, a espera, a persistência, a desistência, o cansaço, a mudança, a ausência, as atitudes, os motivos, as desculpas, o orgulho, a derrota, a paciência, os resultados, o comodismo, o oportunismo, as chances, as ilusões, as certezas, as músicas, o silêncio, as cores, as estrelas, o passado, o presente, o futuro... A vida!

sábado, 2 de julho de 2011

Firework



Um dia, mais um dia, outro dia e o que você tem sido? Um abundante errôneo de todo o ser, vagando as infelicidades de uma vida sem razão, procurando quem sabe o porquê de existir, ou ainda o motivo para mantê-lo nessa estrada sem saída, rotineiro, curioso, risonho, amoroso, perdido, lutador, selvagem, sonhador, perecendo em fotos na estante da sala de estar, ou ainda lendo livros pobres sem gravuras, sem formatos, sem palavras... Procurando escrever a sua história, ser conhecido com vitória, sem devaneios e nem suspense, apenas ser um almejo de esperança na constelação mais distante que não puder alcançar.
Mas um dia irá sair, conhecer o mar, e ali nesse instante irá se recostar em uma pedra qualquer, como grão de areia em meio a multidão de corações suspirantes, irá ouvir todas as respirações e batimentos, mas ninguém notará o que é seu, perdido dará passos vagos, tortuosos, sem sentido. Apenas quando alcançar as encostas das montanhas mais altas do universo, depois de conhecer todos os sóis guardantes de um mundo inteiro, contar todas as estrelas, será ali que a ludibriará, meiga e descontente a espera de alguma gente.
Seus olhos irão cruzar como nunca os seus cruzaram com o de alguém, um brilho surgirá então no céu ao norte, e quando seus corpos se aproximarem uma faísca irá surgir, de dentro daqueles nobres corações abandonados, suas mãos irão tocar-se em perfeita sintonia, e por mais estranho que pareça um irá completar o outro com os pensamentos, nenhuma palavra será trocada, apenas o olhar. Depois de horas os lábios finalmente irão se tocar, e quando chegar esse momento a mais recém chama ardente irá voar para fora de seus corpos, alcançará aquela constelação inalcançável aos olhos humanos, a mais distante, onde os anjos tocarão a sua música e comemorarão deixando jorrar uma chuva de fogos de todas as cores pelo horizonte, levando consigo as noites, os dias e a vida inteira.

Você sabe que ainda há uma chance para você, porque há uma faísca em você”

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Saudade


Saudade, uma palavra tão pequena para um significado tão grande. Todo o tempo, dias, horas, minutos, segundos... Sempre! As pessoas vivem de saudade, porque ou elas têm saudade de alguém, ou elas têm saudade de alguma coisa, de algum momento. A saudade e a lembrança caminham juntas, pois nós costumamos nos lembrar com mais freqüência das coisas que nos deixaram marcas, que nos fazem querer voltar ao passado ou refazer o futuro. Saudade, uma palavra de impacto, uma palavra forte, que ás vezes, bem de leve, parece não ter significado algum, mas que nunca nos abandona, que está nos seguindo a cada passo que damos. Porque o hoje pode lhe fazer falta amanhã, ou aquilo que você não fez pode vir a causar uma falta ainda maior, com um misto de arrependimento. Eu sinto falta, e falta é saudade também. Saudade de quando eu era criança, saudade de amigos distantes, saudade de lugares, saudade de pessoas que se tornaram especiais, essenciais... Saudade, o único sentimento no mundo todo que está sempre presente, mesmo quando alegres, mesmo quando tristes, mesmo quando sentimos menos, a intensidade pode mudar, mas o sentimento? Jamais vai acabar. Saudade, em todos os meus risos e lágrimas eu posso te encontrar.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Efemérides



Os conceitos mudaram e as lutas se alteraram,
o que antes era glorioso é hoje tão pouco, fraco, incapaz...
O nada e o tudo perduram uma vida para se acabar e agora eles têm um fim.
O imoral se tornou moral e vice e versa,
num mundo onde ninguém mais sente culpa
e os perdidos vagam sem passos para os caminhos incertos.
O agora? Que agora?
Se acabou o tempo e nada mais faz jus aos salvos,
e nada mais se faz concreto e tudo,
TUDO o que eu queria eu juro!
Não é alcançar a perfeição,
é apenas ser bom o suficiente para estar no topo
e se isso se tornar um problema, assim sem fato, não tem solução.

E se for pra chover, que chova,
e que depois se faça o sol e que nele eu cresça
e apareça para um mundo novo,
para um mundo intacto que eu mesmo criei,
o meu mundo vago e pouco cavo,
atrás dos males que vieram para o bem.

A sorte existe, afinal, e enfim eu a terei,
assim como todos os merecedores de um trono, um dia,
um belo dia se erguerão e nas lutas póstumas da amargura se mostrarão,
e nos poucos vales da colina eu sei que encontrarei,
não o meu outro lado, mas o que eu mais temia, o meu outro ‘eu’.

sábado, 23 de abril de 2011

Você precisa crescer!

Você precisa crescer... Aceitar que você não é e nunca será o centro do universo. Aprender que não vai ouvir sempre o que deseja ouvir e isso não deve te desanimar. Aprender que as pessoas vão sim te julgar, que isso não é um conto de fadas e nem sempre tem um final feliz. Aprender que quanto mais alto se está maior é a queda, mas que existem coisas pelas quais vale a pena arriscar-se e que não significa que só porque está no alto você vai cair. Aprender que fugir não resolve nada, mas que calar às vezes resolve muita coisa. Aprender que não existe igualdade, mas que isso não o impede de fazer sua parte e ser alguém melhor, não para os outros, mas para você mesmo. Aprender que não existe vitória sem luta. Aprender que nem os opostos e nem os dispostos se atraem, as pessoas apenas se atraem, se vai acontecer algo é que depende de estar disposto e pessoas opostas podem sim se amar e serem felizes, assim como as iguais. Aprender que não existe amor à primeira vista, precisa se olhar mais de uma vez para conseguir amar verdadeiramente. Aprender que mesmo quem você muito ama vai te decepcionar pelo menos uma vez na vida e que isso é absolutamente normal, somos todos humanos. Aprender que se não existe discussão, não existe diálogo, ninguém é tão igual ao ponto de concordar com tudo. Aprender que lágrimas não podem ser oprimidas, pois podem ferir a alma. Aprender que existem vários caminhos para se realizar um sonho, que não se deve desistir no primeiro erro, pois com toda a certeza você ainda vai errar muito. Aprender que magoar os outros faz parte da vida, mas que existe uma palavra chamada “perdão” que corrige muitos erros. Aprender que sentimentos são químicas, mas que devem ser levados muito a sério para não entrarem em conflito. Aprender que usar a felicidade como máscara para esconder suas angustias não só te faz piorar como ainda não engana a todos perfeitamente, sempre tem alguém que te conhece mais e vai notar o seu estado em algum momento. Aprender que ninguém tem a obrigação de completar o seu coração, por isso não se deve passar a vida procurando o amor e sim deixar que ele te encontre. Aprender que muitas vezes você vai fazer muito por quem pouco faz, mas que arrependimento existe para colocar juízo em sua mente. Aprender que se você quer ser respeitado, deve respeitar. Aprender que o que as pessoas mais querem em você é mudança, mas que elas aprendem a te aceitar assim como é com a convivência. Aprender que erros nos ensinam mais do que a idade e que o tempo passa, mesmo quando a pilha do relógio termina. Nessa vida tudo se aprende, depende das experiências vividas por cada um, a única coisa que nós jamais vamos aprender é a morrer, por isso aprenda o máximo que conseguir antes de partir, ninguém sabe o que vem depois.

sábado, 16 de abril de 2011

O Monólogo



- Clarisse, vamos andar lá fora, escalar os montes, Clarisse!
Todo fim de ano era a mesma coisa, íamos para a fazenda subir aqueles altos montes e escorregar na grama macia com caixas de papelão.

- Vem Clarisse, ali é mais alto.

E ela sempre ia além, sempre se aventurava, sempre sorria. Vivia como uma criança, vivia cheia de muita vida.

- Aí é muito alto, pode se machucar, Clarisse! Ei Clarisse!

Mas ela sempre ia onde eu não podia, buscava felicidade, não se importava com nada e nem com tudo, apenas não se importava.

- Eu avisei, foi se machucar e sujar o seu vestido, Clarisse?

E ela voltava logo com o joelho esfolado, para ela era como um prêmio, e depois de passar o ardor ela voltava a sorrir e voltava ao seu mundo, onde não era gente grande, onde era anjo, não domada.

- Não vá se machucar de novo, Clarisse.

Mas logo ela retornava, dessa vez seus lábios carnudos com um corte, a testa toda suja de terra, as bochechas vermelhas de sol, mas como sempre, nunca se importava, ela voltava e brincava de ser ninguém.

- Clarisse, sai da chuva!

A água lhe corria o corpo e lhe fazia bem, limpava a alma, purificava o seu ser, tirava dela tudo o que já não tinha, ao começar pela tristeza que eu nunca a vi sentir. As gotas pesadas da chuva eram suas lágrimas, mas lágrimas de alegria e de verdade.

- Vem pra dentro menina, vai pegar um resfriado aí fora, o vento é forte, vem Clarisse, vem pelo seu bem.

A garota ria e se contorcia para livrar-se da água, estava no balanço sonhando voar, ia bem para o alto, em segundos fechava os olhos e podia ir para qualquer lugar onde fosse uma princesa, a bruxa e a rainha, onde fosse tudo o que queria ser.

- Clarisse, vem pra dentro, o sol já vai se por.

Ela acenou ao longe, mas ignorou as palavras ditas, saiu correndo e levando consigo todas as cores do céu, que aos poucos se diluía em noite profunda.

- Clarisse, o jantar, Clarisse!

Ela não sentia fome, ela só queria viver toda sua liberdade oposta ao mundo, sentir a brisa do cair da noite, ouvir os grilos, caçar vaga-lumes, molhar os pés no rio.

- Clarisse?

Mas ela não me ouviu, assim como ninguém a viu.

- Clarisse!

Minha voz a ecoar os campos, mover as flores. O balanço vazio era controlado pelo vento. Subi os montes e cheguei ao barranco, um corpo sujo, impuro, imaturo, indesejável, não era ela, não podia ser.

- Vamos Clarisse, vamos lá para fora, quero te levar embora.

Naquela cama gélida de um gélido hospital, o ruído que vinha dos corredores, o tic tac de um relógio na parede, um vazio entre a imensidão branca, um vazio por dentro e por fora, o coma.

- Clarisse, por que sempre me deixa falando sozinho? Por que não me escuta, Clarisse?

E como resposta eu tive o silêncio.

sábado, 12 de março de 2011

Meu Particular


Apenas por um dia eu quero ser livre! Não quero ser a filha de ninguém, a estudante de nada, nem uma conhecida ou alguma companheira. Eu quero me amar tanto ao ponto de praticar um narcisismo extremo. Eu vou vestir minha melhor roupa e não vai ser para impressionar ninguém, vai ser apenas para me agradar e me sentir bem, sem críticas alheias, vou deixar meu cabelo voar com o vento sem me importar como ele vai ficar depois, até porque eu gosto quando ele fica bagunçado, parece mais 'eu', vou colocar um salto muito alto ou andar descalça e me sentir bem com isso tudo, que é tão pouco. Só por um dia eu não vou aos lugares onde me mandarem ir, eu vou onde tiver vontade, se tiver vontade de sair, pois eu posso ficar em casa e ainda assim me divertir, tirar fotos fazendo caretas, dançar de meia no chão do quarto ou aprender a tocar algum instrumento imaginário. Eu quero me olhar no espelho e ter a certeza de que sou a pessoa mais bonita do mundo, por dentro e por fora, vou comer tudo o que tiver vontade e não vai me fazer mal algum, mesmo que seja tóxico, eu vou ter no meu jardim um dinossauro e uma montanha-russa. Por um dia eu quero ser invisível aos olhos humanos, respeitar minhas próprias diferenças e fingir que não sei nada, a não ser viver. Eu nasci para ser, e apenas por um dia eu quero ser quem eu nunca fui, mas nasci para ser. Meu coração poderá se fechar para o mundo e se abrir mais para mim, me permitindo revelar todos os meus segredos, até aqueles que nem eu mesma sei. Vou entrar na minha casa vazia, vou vestir um par de pantufas de urso panda, talvez ouvir alguma música triste e ainda assim me sentir alegre, serei eu e eu mesma vivendo. Desfilar entre as nuvens e delas pular de para-quedas caindo ao mar e poder respirar embaixo da água e por lá ficar por muito tempo, até me sentir exausta, para depois então deitar na areia marcada de uma praia deserta com um livro entre as mãos, um livro novo, para eu fechar os olhos e respirar naquelas páginas sentindo o aroma de papel, e quando abrir os olhos eu vou estar na minha montanha-russa, cheia de altos e baixos, cheia de curvas, que me faz virar de cabeça para baixo sem segurança alguma, que dará uma volta inteira ao planeta, na velocidade de um cometa, aos poucos ela irá se transformar em uma roda-gigante, lenta e calma e terminará sendo minha cama, uma cama encantada, com uma coberta de sonhos realizados, estampada com estrelas brilhantes. Quero por um dia uma vida leve como uma brisa. Ninguém vai precisar me notar, pois vou estar na melhor companhia do universo, a minha.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Infinita Highway


“Você me faz correr demais os riscos desta highway. Você me faz correr atrás do horizonte desta highway”. O volume do carro aumentou, a rodovia nunca me pareceu tão longa como aquela vez, e eu só me permitia respirar, afinal... “Ninguém por perto, silêncio no deserto. Deserta highway”. Olhei para o lado e ele já adormecia, como uma criança, meus olhos também pesavam, mas eu sabia que precisava dirigir mais um pouco. E eu cantava: “Estamos sós e nenhum de nós sabe exatamente onde vai parar, mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir”. Foi no mesmo instante em que ele despertou, e ele me completou: “Não queremos ter o que não temos, nós só queremos viver sem motivos, nem objetivos. Estamos vivos e isto é tudo”. Nós sabiamos, aquilo... “É sobretudo a lei da infinita highway”. Me lembrei por vários segundos em silêncio tudo o que passamos, era ele sussurando em minha mente: “Quando eu vivia e morria na cidade, eu não tinha nada, nada a temer!” Mas eu sabia tudo o que ele sentia, assim como eu... “Mas eu tinha medo, medo dessa estrada”. E ele sempre me dava todo o apoio que precisava: “Olhe só, veja você!” E aquilo me fazia sorrir abertamente, sentir a brisa que entrava pela janela do carro tocar levemente a minha face. Uma sensação de liberdade que me fazia recordar: “Quando eu vivia e morria na cidade eu tinha de tudo, tudo ao meu redor, mas tudo que eu sentia era que algo me faltava e à noite eu acordava banhada em suor”. Era um delírio, eu sempre soube que havia perdido algo, mas jamais pude entender o que era, agora eu sentia, estava indo não sei para onde, atrás dele que deveria ainda estar ao meu lado, sempre estava, onde o encontraria afinal? A verdade é que... “Não queremos lembrar o que esquecemos, nós só queremos viver. Não queremos aprender o que sabemos, não queremos nem saber”. E agora ali estava eu, como ele sempre quis que eu estivesse, “Sem motivos, nem objetivos”. E ele tocou a minha mão, eu o vi mais uma vez, era um anjo! E sua voz me acalmava, me fazia não desejar desistir: “Estamos vivos e é só! Só obedecemos a lei da infinita highway”. O vi colocar a cabeça para fora do carro e gritar: “Escute, garota, o vento canta uma canção dessas que uma banda nunca canta sem razão”. Eu ria, e eu era feliz e nem se quer sabia o quanto, ele era tudo o que eu queria, mas nunca soube o quanto precisava, e ele continuava: “Me diga, garota, será a estrada uma prisão?”. Dessa vez o respondi com o meu melhor tom, no ritmo do nosso sentimento: “Eu acho que sim, você finge que não”. Foi quando eu quase parei, estava insana, ainda mais do que o de sempre, mas ele novamente segurou a minha mão e me deu firmeza dessa vez: “Mas nem por isso ficaremos parados com a cabeça nas nuvens e os pés no chão”. Mas eu já sentia medo, e ele parecia incrivelmente chateado, pronunciando em tom seco e rude como nunca o vi dizer: “Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre, se tanta gente vive sem ter como viver”. Eu agora entendia, eram as injustiças do mundo que ele via, mas eu não as podia ver, porque era uma lunática, por isso um dependia tanto do outro, e aquela estrada infinita me fazia delirar, ilusionismo incompleto de alguém que quer sonhar. “Estamos sós e nenhum de nós sabe onde quer chegar. Estamos vivos, sem motivos”. E ele me interrompeu de meu próprio pensamento, mas como? Ele leu, leu tudo o que pensei, ou será que eu pensei alto demais dessa vez? “Que motivos temos pra estar?” Eu pensei em respondê-lo, mas as palavras me faltaram, assim como o ar por breves segundos, embora pudesse aparentar uma eternidade, ali estava eu... “Atrás de palavras escondidas nas entrelinhas do horizonte dessa highway. Silenciosa highway. Eu vejo um horizonte trêmulo, eu tenho os olhos úmidos, eu posso estar completamente enganada, eu posso estar correndo pro lado errado, mas a dúvida é o preço da pureza. É inútil ter certeza!” Agora aos poucos eu despertava e já sabia que era apenas tudo um sonho, olhei para o lado e ele não estava ali, olhei para o rumo que deveria seguir, o que eu vejo? “Eu vejo as placas dizendo: não corra, não morra, não fume. Eu vejo as placas cortando o horizonte, elas parecem facas de dois gumes”. Passou pela minha mente todo um filme em camera lenta, o primeiro e o ultimo beijo. “Minha vida é tão confusa quanto a América Central. Por isso não me acuse de ser irracional”. E me passou no fim do filme as últimas palavras ditas por ele a mim: “Escute, garota, façamos um trato, você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato. Eu posso ser um Beatle, um beatnik ou um bitolado, mas eu não sou ator, eu não tô à toa do teu lado. Por isso, garota, façamos um pacto de não usar a highway pra causar impacto”. Já não via mais a estrada, virei na primeira curva, eu não iria atrás de quem me deixou algum dia, porque eu tinha o meu valor, mas como iria viver sem ele então? “Cento e dez, cento e vinte, cento e sessenta. Só prá ver até quando o motor agüenta. Na boca, em vez de um beijo, um chiclet de menta”. E foi exatamente ali que ficou ... “A sombra do sorriso que eu deixei, numa das curvas da highway”.